Dinâmicas Colaborativas

Por que a cocriação virou peça-chave no desenvolvimento imobiliário

Na última sexta-feira, participei de uma dinâmica daquelas que te tiram do automático. Era um encontro diferente: roda de conversa, post-it, perguntas soltas no ar e gente de áreas bem distintas. Arquitetos, incorporadores, corretores, consultores, investidores, branding... todo mundo ali com um objetivo em comum: imaginar juntos o que aquele projeto poderia ser.

Saí de lá com uma certeza: o mercado imobiliário precisa, mais do que nunca, abrir espaço para escuta, troca e cocriação. E isso vale para qualquer fase do projeto — do rebranding de uma incorporadora ao desenho de um novo produto.

Charrette, design thinking, oficinas criativas... chame como quiser

Se você é do mercado de arquitetura, talvez já tenha ouvido falar em charrette. Uma dinâmica clássica que junta todo mundo em volta da prancheta (ou da mesa) para resolver um desafio com prazo apertado. Surgiu lá nas escolas francesas de arquitetura, mas foi ganhando novas formas com o tempo.

Hoje, chamamos isso de várias coisas: design sprint, oficina de cocriação, laboratório de marca... mas a essência é uma só: trazer gente boa pra pensar junto.

Aqui em Santa Catarina, uma das grandes responsáveis por popularizar essas dinâmicas foi a Pedra Branca — hoje Hurbana. Muito antes disso virar moda, eles já estavam reunindo profissionais, moradores e parceiros pra pensar cidade, arquitetura e vida urbana em conjunto. Eles não só criaram um novo jeito de planejar bairros, como ajudaram a mudar a cultura de todo um setor.

Não é só método. É mentalidade.

A parte mais potente dessas dinâmicas não está na sala em si, nem nos post-its. Está no que elas causam depois.

Quando uma empresa passa por processos de cocriação com clientes, parceiros ou comunidade, ela muda por dentro. Fica mais atenta. Mais aberta. Começa a valorizar mais o que vem de fora. É como se a escuta passasse a fazer parte do DNA da equipe.

E isso impacta tudo: a forma de criar produto, de comunicar, de decidir, de vender. Você percebe quando uma empresa já viveu algo assim — ela age com mais empatia e entrega com mais contexto.

O mercado imobiliário não pode mais projetar em bolha

Projetos imobiliários têm ciclos longos, margens apertadas e riscos altos. Em vez de isolar decisões estratégicas em salas de diretoria, por que não trazer mais vozes pro jogo?

Hoje, os melhores produtos são aqueles que ouvem antes de desenhar. E que testam ideias ainda no campo da narrativa, da proposta, do desejo. Isso vale ouro.

Além disso, é um jeito inteligente de antecipar erros, descobrir oportunidades e envolver quem vai vender, comprar ou operar aquele projeto.

Mas como colocar isso em prática?

A boa notícia: você não precisa virar especialista em metodologias com nomes complicados. Comece simples, com intenção genuína.

Aqui vão alguns princípios que funcionam:

  • Convide gente diversa: arquitetos, corretores, clientes da base, investidores, fornecedores, moradores do entorno.

  • Crie o ambiente certo: sem hierarquia, sem resposta certa. Todo mundo contribui, todo mundo escuta.

  • Tenha um mediador: alguém que saiba guiar o processo, organizar as ideias e tirar aprendizados práticos.

  • Valorize os registros: fotos, post-its, frases soltas, desenhos. Tudo isso pode virar insight estratégico.

Ah, e prepare-se: essas dinâmicas deixam rastros. Depois de viver uma boa oficina, dificilmente a empresa volta a operar do mesmo jeito.

Conclusão: não é só sobre projetar melhor — é sobre construir juntos

A gente fala muito sobre fazer produtos com mais propósito, mais conexão, mais valor. Pois bem: isso começa com escuta. Com diálogo. Com menos ego e mais construção coletiva.

Projetos bem-sucedidos nascem de boas perguntas, feitas nos lugares certos, com as pessoas certas.

Na próxima vez que sua empresa for discutir um novo lançamento, rebranding ou reposicionamento, pensa nisso: com quem mais deveríamos estar conversando agora?

Às vezes, a melhor ideia não está no seu escopo inicial. Está na fala solta de um corretor experiente, no insight de um morador antigo, ou na visão de alguém que vê a cidade de outro ângulo.

Criar junto não é moda. É inteligência estratégica.

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